terça-feira, 6 de novembro de 2012

6 de novembro de 1479 - Nascia, Joana, a Louca, rainha de Castela


Joana I, a Louca (Toledo, 6 de Novembro de 1479 — Tordesilhas, 11 de Abril de 1555), La Loca em espanhol, a terceira filha de Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, foi rainha de Castela (1504-1555) e Aragão (1516-1555) e mãe de Carlos V de Habsburgo do Sacro Império Romano-Germânico.

Infanta da Coroa de Castela

Desde pequena considerada muito bela e inteligente, recebeu uma esmerada educação, própria a uma infanta e improvável herdeira da Castela, baseada na obediência, ao contrário da exposição pública e da aprendizagem de governo, requeridos na instrução de um príncipe. No estrito e itinerante ambiente da corte castelhana da sua época, Joana foi uma boa aluna no comportamento religioso, urbanidade, boas maneiras e comportamento próprios da corte, sem esquecer as artes, como a dança e a música, entretenimento como a equitação e o conhecimento das línguas românicas da Península Ibérica para além do francês e do latim. Entre os seus principais preceptores se encontraram o sacerdote dominicano Andrés de Miranda, a amiga e tutora da rainha Isabel, Beatriz Galindo, apelidada de "a latina" e, provavelmente a sua mãe.

A casa real incluía religiosos (confessor, sacristão, distribuidor de esmolas e capelões), oficiais administrativos (mordomos, camareiros, cavalariços, todos nas suas hierarquias, e ainda um contador, um tesoureiro e um secretário), pessoal encarregado da alimentação (cozinheiros, mestre-sala, padeiro, reposteiro, copeiros e catadores), pessoal encarregado da saúde e protecção, e outro pessoal (criadas e escravas canárias), meticulosamente seleccionados por seus pais sem a sua participação. Ao contrário de Joana, o seu irmão, D. João de Aragão, Príncipe das Astúrias e de Gerona, começou a encarregar-se da casa e das posses territoriais como treino para o governo do seu futuro reino.

Arquiduquesa, duquesa, condessa e senhora

Como era costume na Europa da época, Isabel e Fernando negociaram os casamentos de todos os seus filhos de modo a assegurar objectivos diplomáticos e estratégicos. Conscientes das aptidões de Joana e do seu possível desempenho em outra corte, bem como da necessidade de reforçar os laços com o Sacro Imperador Romano-Germânico, Maximiliano I da Germânia, contra os cada vez mais hegemónicos monarcas franceses da dinastia Valois, ofereceram Joana ao seu filho, Filipe, arquiduque da Áustria, duque da Borgonha, Brabante, Limburgo e Luxemburgo, conde da Flandres, Habsburgo, Hainaut, Holanda, Zelândia, Tirol e Artois, e senhor de Amberes e Malinas entre outras cidades.

Joana a Louca e Filipe o Belo

Em troca deste casamento, os Reis Católicos pediram a mão da filha de Maximiliano, Margarida de Habsburgo, para o príncipe João. Curiosamente, Joana tinha sido considerada pelo Delfim Carlos, herdeiro do trono francês, e em 1489 pedida em matrimónio por Jaime IV, rei da Escócia.

Em Agosto de 1496, a futura arquiduquesa partiu da praia de Laredo, Cantábria, em uma das carracas genovesas ao comando do capitão Juan Pérez. Para demonstrar o esplendor da coroa castelhana às terras do norte, e o seu poderio ao hostil rei francês, a frota também incluía outros 131 navios, de naus a caravelas, com uma tripulação de 15.000 homens.

Joana despediu-se de sua mãe e irmãos, e iniciou a viagem para a longínqua e desconhecida terra flamenga, lar do futuro esposo. A travessia teve alguns contratempos que, em primeiro lugar, obrigaram a frota a refugiar-se em Portland, Inglaterra, a 31 de Agosto. Quando finalmente a frota pôde chegar a Middelburg, Zelândia, uma carraca genovesa que transportava 700 homens, o guarda-roupa de Joana e muitos dos seus haveres pessoais, encalhou num banco de pedras e areia e afundou-se.

Filipe encontrava-se na Alemanha e não foi receber a sua noiva, devido à oposição dos conselheiros francófilos, que tencionavam convencer Maximiliano da inconveniência de uma aliança com a Coroa de Castela, e das virtudes de uma aliança com a França. O ambiente da corte no qual Joana se encontrou era radicalmente oposto ao que viveu na coroa castelã. Por um lado, a sóbria, religiosa e familiar corte castelhana contrastava com a festiva, desinibida e individualista corte borgonho-flamenca. Aquando da morte da imperatriz Maria de Borgonha, a casa de Filipe, de 4 anos, tinha sido rapidamente dominada pelos grandes nobres borgonheses. Ao contrário da Coroa de Castela, as grandes decisões eram tomadas de acordo com os interesses destes importantes nobres através do influenciável Filipe.

Apesar de os futuros esposos não se conhecerem, houve bom entendimento entre eles e conta-se que se apaixonaram à primeira vista. A cerimónia foi realizada em Lille, Flandres, a 21 de Outubro de 1496. Não obstante, o casamento não impediu Filipe de ter aventuras amorosas com outras damas, o que fez nascer em Joana ciúmes patológicos. Falava-se de violentos confrontos do casal e que Joana chegara mesmo a agredir uma dama com um pente, suspeitando ser esta uma das amantes do marido. Em pouco tempo chegaram os filhos, o que agudizou os ciúmes de Joana.

Em 24 de Novembro de 1498, na cidade de Lovaina, nos arredores de Bruxelas, nascia a primogénita, Leonor, assim baptizada em honra de Leonor de Portugal, avó paterna de Filipe, que teria enlouquecido de desgosto pela morte do marido. Joana vigiava constantemente o seu esposo. Apesar do avançado estado de gestação da sua segunda gravidez, da qual nasceria Carlos a 24 de Fevereiro de 1500, assistiu a uma festa no palácio de Gante. No mesmo dia nasceu o seu filho, segundo se diz, nos lavabos do palácio. No ano seguinte, a 18 de Julho de 1501, em Bruxelas, nascia a sua terceira filha, chamada Isabel em honra de Isabel de Portugal, rainha de Castela, sua avó materna.

Rainha da Coroa de Castela

Testamento assinado de Isabel I de Castela

Joana foi elevada ao trono por mortes na família:

  • em 1497 morreu seu irmão João, príncipe das Astúrias;
  • o filho deste morreu à nascença;
  • em 1498 morreu sua irmã Isabel de Aragão e Castela, Rainha de Portugal, casada com o rei D. Manuel I de Portugal;
  • em 1500 morreu o filho desta, o príncipe Miguel da Paz, Príncipe de Portugal e das Astúrias.

Assim, Joana e Filipe foram jurados herdeiros em 1502. Em Dezembro de 1502, Filipe voltou para as terras da Flandres, o que parece ter agravado o estado mental de Joana. Já demonstrando debilidade mental, foi inicialmente detida pela mãe na Coroa de Castela. Mas em Março de 1504 Joana saiu de Medina del Campo para a Flandres. Havia violentos choques entre a política flamenco-borgonhesa do marido Habsburgo com a política do seu pai, Fernando II de Aragão. Pelo I Tratado de Blois, em 22 de Setembro de 1504, sem autorização do sogro, Filipe dispôs com Luís XII de França o casamento de Carlos de Gante, seu filho de 4 anos de idade, com uma das filhas do rei, Cláudia ou Renata, comprometendo os direitos e a conquista de Nápoles.

A sua mãe Isabel morreu em 25 de Novembro de 1504. Joana foi proclamada rainha de Castela em 26 de Novembro e reconhecida pelas Cortes de Toro em 11 de Janeiro de 1505. O testamento encarregava Fernando II de Aragão da administração e governo da sua Coroa de Castela; a rainha proibia a concessão de cargos castelhanos a estrangeiros e determinava ainda que, caso Joana manifestasse sintomas de desequilíbrio, a coroa devia ser regida por seu pai.

Na concórdia de Salamanca (1505) acordou-se o governo conjunto de Filipe, Fernando de Aragão e da própria Joana, mas devido a acusações de alienação mental desta, Filipe e Fernando continuaram a lutar pelo poder, contando o primeiro com apoio da maior parte da nobreza. Com o casamento, Filipe recebera títulos nobiliárquios - duque da Borgonha, Brabante, Limburgo e Luxemburgo, conde da Flandres, Habsburgo, Hainaut, Holanda, Zelândia, Tirol e Artois, e senhor de Amberes e Malinas entre outras cidades.

Criaram-se dois partidos: o partido que apoiava Filipe, dirigido por Pedro Manrique de Lara, Duque de Najera, Alonso de Pimentel, Conde de Benavente, pelos marqueses de Villena, Zenete e Priego, pelos Duques de Medina Sidonia e Bejar, e pelo conde de Ureña. Joana retirou-se temporariamente para a corte de Bruxelas, onde a 15 de Setembro deu à luz o seu quinto filho, Maria. A 12 de Outubro Fernando II de Aragão firmou o II Tratado de Blois, em que combinou o seu casamento com Germana de Foix, sobrinha de Luís XII, para contrabalançar o ganho político de Filipe com o I Tratado de Blois.

Pelo Tratado de Windsor, em 9 de Fevereiro de 1506, assinado com o Henrique VII rei da Inglaterra ficou determinado que Carlos de Gante casaria com Maria Tudor, e o seu filho Henrique com Margarida da Áustria, irmã de Filipe I.

Houve algumas tentativas de conciliação mas Fernando acabou por renunciar ao poder da Coroa de Castela para evitar um confronto armado. A 27 de Junho, reconhecendo a alienação mental da filha, assinou o Tratado de Villafáfila, renunciando aos seus direitos e retirando-se para Aragão. As Cortes de 9 de Julho proclamaram Joana como rainha de Castela, Filipe como rei consorte e o filho Carlos como herdeiro.

Filipe isolou Joana e governou, reorganizando cargos e ofícios, concedendo privilégios e mercês aos nobres castelhanos e flamengos. D. Juan Manuel, senhor de Belmonte e presidente do Real Conselho, Filiberto de Veyre (apelidado La Mouche), João de Luxemburgo, senhor de Ville, e Garcilaso de la Vega, comendador de Leão foram figuras centrais do breve período de regência do Habsburgo.

Filipe deteria a coroa até 25 de Setembro do mesmo ano, quando morreu repentinamente, em circunstâncias suspeitas. A peste açoitava o país. Suspeitou-se de envenenamento. Outra hipótese dizia que estava a jogar à pelota, em que se destacava, e depois da partida bebeu um jarro de água gelada que provocou uma febre intensa que o matou. Fernando II de Aragão e o cardeal de Cisneros recuperaram o poder.

Viúva

Doña Juana la Loca (1877), de Francisco Pradilla y Ortiz. Museu do Prado (Madrid)

Joana recusou viver em Arévalo, onde estivera encerrada a sua avó portuguesa, louca. Em 1 de Novembro de 1506, dia de finados, a Rainha Joana deu ordens para abrir o caixão do marido, sepultado no esplêndido Panteão Real da Cartuja de Miraflores, em Burgos, onde morrera. Segundo os últimos desejos de Filipe, levou o seu corpo para Granada (excepto o seu coração que pediu que enviassem a Bruxelas, o que se realizou).
Conta-se que fez embalsamar o corpo, vestiu o cadáver com grande pompa e o levou consigo, encabeçando o cortejo fúnebre, viajando sempre à noite, afastada dos locais onde mulheres pudessem ter contacto com ele. Durante oito frios meses por terras castelhanas, a rainha Joana não se separará por um momento do caixão, acompanhada por um grande número de pessoas, entre as quais religiosos, nobres, damas de companhia, soldados e diversos criados. Nas povoações por que passavam, aumentavam os rumores da sua loucura. Ao fim de alguns meses, os nobres "obrigados" pela sua posição a seguir a rainha, sentiam-se a perder tempo com esta "loucura" em ver de se ocuparem como deveriam das suas terras. Na cidade de Torquemada, a 14 de Janeiro de 1507, dá à luz o sexto filho, póstumo, do seu marido, uma menina baptizada com o nome de Catarina. A demência da rainha agravava-se. Não queria trocar de roupa nem lavar-se.

Por fim, Fernando II de Aragão, segundo a última vontade de Isabel I de Castela, decidiu encerrá-la, com a pequena Catarina, em Tordesilhas, em Fevereiro de 1509. Com a morte de Fernando II, Carlos I de Espanha tomou o poder. Catarina saiu da companhia da mãe para se casar com João III de Portugal, mas Joana viveu lá durante 46 anos, sem sair do seu palácio.

A literatura romântica fez dela a figura enlouquecida por ciúmes, mas herdara da avó a esquizofrenia que recairia em D. Carlos, seu neto.

Sepultada na igreja mudejar de Santa Clara, seu corpo foi transladado em 1574 para a Capela Real de Granada, junto ao do marido, sendo o castelo de Tordesilhas, onde morreu, demolido em 1771.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

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