Walcyr Carrasco
"A leitora Ana Maria Fernandes Rodrigues levantou o tema em um comentário. De fato, o nível de preconceito contra gordos é impressionante. Eu, que fui gordo um bom tempo, sofri na pele. Há aquele tipo de preconceito disfarçado em comentário amigável. Cada vez que visitava alguém, ouvia:
– Puxa, você engordou!
Era dito de forma simpática, mas eu me sentia mal. E depois vinham brincadeiras sobre a minha barriga. Uma vez um amigo falou a outro que eu parecia um Buda. Reclamei. Ele se defendeu:
– Mas os budas são lindos!
Quando alguém engorda, nem que seja um pouquinho, vira uma vítima de amigos, conhecidos, parentes. Até mesmo vendedores de lojas, quando eu entrava, nem se davam ao trabalho de procurar peças:
– Não temos o seu número!
E o pior: as mesmas pessoas que insistiam para eu fazer regime viviam oferecendo queijos, doces:
– É só hoje! Depois você começa o regime.
Sei que muitas empresas insistem no item “boa aparência”. Candidatos gordos são invariavelmente excluídos.
Conheço uma pessoa que chega a dizer, publicamente:
– Não falo com gordos!
Como é uma pessoa poderosa, também, é óbvio, não contrata!
Acabo de escrever um livro, “Laís, a Fofinha”, que fala da discriminação contra uma menina gorda na escola. Vira alvo de piadas. Para escrevê-lo, falei com algumas crianças. Descobri que termos como “bolota” ou “baleia” são comuns.
No dia a dia, pouco se fala contra o preconceito contra gordos. Claro que todas as minorias, tradicionalmente vítimas de preconceito, devem ser defendidas.
Mas o gordo vive sob constante humilhação, nos empregos, baladas, até mesmo dentro da família.
Já que a discussão sobre preconceito está na ordem do dia, vale a pena refletir sobre o assunto."
Fonte: http://vejasp.abril.com.br/blogs/walcyr-carrasco
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